domingo, 6 de abril de 2014

Algumas patologias tratadas pela fisioterapia

Radiculopatia Cervical (RC)


A radiculopatia cervical (RC) é um processo patológico que envolve raízes nervosas cervicais, sendo resultado da compressão e inflamação de uma ou mais raízes cervicais nas adjacências dos forames intervertebrais. Os sintomas primários mais relatados nesta afecção são os de dor no membro superior, parestesia e fraqueza no miótomo separada por septos mioméricos afetado, que geralmente resultam em significantes limitações funcionais e deficiências. A dor radicular braquial,com ou sem parestesia, chega a ser relatada em 80% a 100%dos casos. 
As metas para o seu tratamento vislumbram eliminar os sintomas,por meio de métodos que visam reduzir a dor, restaurara força muscular e amplitude de movimento, os quais usualmente podem se apresentar como tratamentos conservadores. Em vista do potencial comprometimento funcional oferecido pelas RC, o presente trabalho tem por objetivo revisar desde a etiologia às formas terapêuticas empregadas no tratamento conservador desta patologia.

Etiologia

A RC é uma patologia que frequentemente não possui origem traumática, ocorrendo de forma espontânea na maioria dos casos. Relata-se que um histórico de esforço físico ou trauma ocorre apenas em 14,8% dos casos. As causas mais comum entre relacionadas a tal patologia são a herniação do disco cervical e espondilose cervical. As causas menos comuns de RC incluem: complicações cirúrgicas, tumores intra ou extra espinhais, avulsão traumática de raiz nervosa, cistos sinoviais, cistos meníngeos,fístula arteriovenosa dural, sarcoidose, arterites, esforço físico,compressão ganglionar, linfoma não Hodgkin, tortuosidade ou formação de alça na artéria vertebral, podendo ainda ocorrer sem causa identificável.

Quadro Clínico

A dor é o sintoma mais característico desta patologia em seu estado agudo, todavia, esta característica diminui à medida que a condição torna-se crônica. Os sintomas sensoriais, predominantemente parestesia (são sensações cutâneas subjetivas ex.; frio, calor, formigamento, pressão etc... - que são vivenciadas espontaneamente na ausência de estimulação. Podem ocorrer caso algum nervo sensorial seja afetado, seja por contato ou pelo rompimento das terminações nervosas), são mais comuns que os sintomas motores e hiporreflexia profunda. A dor radicular pode ser acentuada por manobras que ocasionam tração da raiz nervosa envolvida, tal como tosse, espirro, manobra de Valsalva ou certos movimentos e posicionamentos cervicais. Segundo a lei de Cannon, as RC poderiam causar o fenômeno de "hiperalgesia miálgica" ou "supersensibilidade à denervação" nos músculos inervados pelos axônios comprometidos. Letchuman et al (2005) sugerem que a tensão muscular ipsilateral à RC pode ser resultado de um destes fenômenos.
A fisioterapia pode aumentar a força da extremidade superior afetada, sua destreza, coordenação, melhorar as atividades devida diária, aumentar a amplitude de movimento da articulação do ombro e diminuir espasmos musculares cervicais. Além disso, benefícios clínicos importantes relativos à redução da dor e aumento da função têm sido reportados em pacientes portadores de patologia cervical crônica.



As opções terapêuticas da fisioterapia atuam como procedimentos complementares na redução de quadros álgicos e alterações osteomioneuroarticulares. Diversos recursos fisioterapêuticos têm sido avaliados, através da associação entre modalidades como: tração cervical, cinesioterapia, aplicação de calor superficial e profundo, crioterapia, educação ergonômica, terapia para ganho de amplitude de movimento, condicionamento geral, mobilização e manipulação, estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) e massoterapia.

Manipulação e Mobilização da Coluna Vertebral

Alguns autores preconizam uma diminuição imediata da dor oriunda de RC, em virtude da utilização de manipulação e mobilização da coluna vertebral. Dados da literatura referem tal terapêutica como sendo um método de grande valia a ser empregado previamente ao tratamento invasivo das RC. Esta técnica demonstra-se bastante proveitosa uma vez que determina resultados terapêuticos efetivos, poucos riscos de complicação,e não apresenta efeitos colaterais tai quais os da terapia medicamentosa e cirúrgica. Segundo Pikula (1999), a manipulação vertebral na coluna cervical além de diminuir,de forma imediata, a dor aumenta a amplitude de movimento das articulações comprometidas. Notoriamente, pacientes come sem compressão de raiz nervosa secundária à herniação do disco cervical respondem bem a esta forma de tratamento.

Tração Cervical

Alguns dos efeitos fisiológicos da tração cervical incluem a estimulação dos receptores teciduais de alongamento e mecanorreceptores que proporcionam o alívio da dor e redução do tônus muscular, descompressão de estruturas articulares, vasculares e do tecido nervoso. Diversos estudos relatam que a tração mecânica da coluna cervical resulta em um aumento dos espaços intervertebrais e relaxamento de estruturas musculares. Joghataei etal (2004) evidenciaram que a tração cervical mecânica reduzo déficit de preensão palmar em indivíduos portadores de RC. Por sua vez, Constanto Yannis et al (2005) demonstraram por meio da aplicação desta mesma terapêutica, em pacientes portadores de RC decorrente de hérnia discal, uma melhora dos sintomas e diminuição da herniação do disco intervertebral.

Em um estudo ainda mais recente deduziu-se que a tração mecânica manual, em indivíduos assintomáticos, é capaz de gerar um aumento estatisticamente significativo no comprimento da coluna cervical. Todavia, Young et al. (2009) demonstram que a tração mecânica cervical em adição a um tratamento multimodal de terapias manuais e exercícios não apresenta rendimentos adicionais ao alivio da dor, ganho funcional ou redução das deficiências em portadores de RC. Portanto, a literatura ainda carece de evidências convincentes quanto aos efeitos positivos possivelmente gerados pela utilização desta modalidade em casos agudos ou crônicos.

Termoterapia

A termoterapia por adição de calor poderia ser um recurso recomendável ao tratamento das RC, uma vez que a mesma tende a aumentar a circulação local, relaxar os músculos acometidos e diminuir a tensão muscular provocada por tal patologia. Todavia, a literatura refere, que tal modalidade terapêutica não gera benefícios significativos ao controle da dor. A crioterapia pode ser utilizada para tratar pontos de tensão muscular, contudo, no caso das RC que apresentam pontos de tensão no membro superior, o tratamento deve ser direcionado à região cervical e não à área aparentemente afetada.

Ultra-Som Terapêutico e Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea(TENS)

Quanto à utilização destes métodos, alguns estudos consideram que tais métodos de tratamento não demonstram benefícios ao manejo das RC. A terapia por campo eletromagnético pulsado demonstra ser um recurso de grande valia neste tipo de afecção uma vez que a mesma demonstrou redução significativa da dor e ganho na amplitude de movimento cervical.

Cinesioterapia

O fortalecimento da musculatura flexora cervical profunda parece ser uma boa opção ao manejo cinesioterapêutico desta patologia. Orientações posturais, apesar dos benefícios relacionados à melhoria da mecânica corporal, são necessárias evidências mais concretas quanto aos resultados da educação postural no tratamento das RC.

Acupuntura

Um recente estudo demonstra que a acupuntura é uma modalidade terapêutica valorosa no tratamento da dor causada por espondilose cervical. Por sua vez, a eletro acupuntura demonstrou-se uma opção satisfatória no tratamento de dores cervicais crônicas. Todavia, um estudo de revisão prévio conduzido por White e Ernst (1999) denotou efeitos positivos e negativos da acupuntura de forma equilibrada, quando a mesma era utilizada para o tratamento da dor cervical. Outra revisão da literatura refere que a acupuntura exerceu um efeito negativo ou não apresentou efeitos na abordagem das dores cervicais.

Portanto, esta técnica não traz benefícios suficientemente respaldados para que seja empregada no tratamento de patologias que gerem dores cervicais, sendo necessárias mais investigações para suportar sua empregabilidade. Uso do colar cervical. Considerando os efeitos adversos provocados pela imobilização prolongada nos tecidos e o fato de que o uso do colar cervical é uma intervenção inteiramente passiva, seu uso apropriado deve ser o de adjuvante para propósitos paliativos e não como tratamento primário. Sua utilização apresenta evidências inconclusivas ou não denota benefícios na redução do quadro álgico. É ainda importante ressaltar que seu uso pelo período de 72 horas provavelmente prolonga as deficiências geradas pela patologia.

Considerações Finais

As RC frequentemente resultam de hérnia discal ou espondilose cervical, sendo uma causa comum de dor e parestesia no membro superior. O exame clínico, estudos radiográficos e eletrodiagnósticos possibilitam uma localização acurada da patologia. Seu tratamento conservador é multidisciplinar e apresenta bons resultados, todavia são necessários mais estudos a este respeito, em virtude de controvérsias observadas na literatura.